quarta-feira, 27 de junho de 2012

425
A pobreza ética aguça a engenharia financeira.
424 e meio
fazer a rampinha de cimento no passeio em frente da garagem.
424
escolher o carro cinzento
para disfarçar a sujidade.

terça-feira, 26 de junho de 2012

423
o centro harmónico não está no meio.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

422
os músicos instalados virem dizer que já não se faz música de intervenção.

421
uma preta
caminha
dentro do seu vestido
enorme de capulana
colorido
colorida
pelo meio da cidade cinzenta.
dá-me esperança.
420
Portugal ganha o campeonato europeu de futebol.
e depois?

segunda-feira, 18 de junho de 2012

416
o casaco justo de cabedal
reluz ao sol.

as luvas, o capacete, o lenço
e uma fina linha de pó branco.

o punho roda,
a mota ruge.

aceleras a fundo.

talvez o vento leve a caspa.
419
passeias
pelo passeio
na parte velha da cidade.

é primavera,
estás deslumbrado:
não consegues tirar os olhos das fachadas.

a luz, as pessoas à janela, o rebuliço do outro lado da rua,
todos os belos lugares-comuns que leste nos textos de alguém.
que comprazimento, que completude!

Lisboa em todo o seu esplendor.

até pisares uma bosta.

domingo, 17 de junho de 2012

418
romli-romli.
417
somos modernos.
estamos mortos.

sábado, 16 de junho de 2012

415
o lobo atrai a floresta.
[Marina Tsvetaeva]
414
se estás mal disposto, não toques guitarra.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

413
todos os dias,
para o seu trabalho,
zeloso e pontual,
segue para Auschwitz
o judeu guarda-prisional.
é o orgulho de sua mãe.

terça-feira, 5 de junho de 2012

412
a
misantropia
do
programador.
411
e se escrever com todas as letras
AL-QAEDA,
essa invenção dos americanos,
o que é que acontece?

segunda-feira, 4 de junho de 2012

410
sem 'cunha' onde trabalharíamos nós?
409
podemos fingir que não é nada connosco,
que não temos nada a ver com o assunto,
que a culpa não é nossa.
e que
portanto
não temos
de fazer nada.
408
1º sonho de Calvino
Do alto de mais de trinta andares, alguém atira da janela abaixo os sapatos de Calvino e a sua gravata.
Calvino não tem tempo para pensar, está atrasado, atira-se também da janela, como que em perseguição.
Ainda no ar alcança os sapatos.
Primeiro, o direito: calça-o; depois, o esquerdo.
No ar, enquanto cai, tenta encontrar a melhor posição para apertar os atacadores.
Com o sapato esquerdo falha uma vez, mas volta a repetir, e consegue.
Olha para baixo, já se vê o chão.
Antes, porém, a gravata; Calvino está de cabeça para baixo e com um puxão brusco a sua mão direita apanha-a no ar e, depois, com os seus dedos apressados, mas certeiros, dá as voltas necessários para o nó: a gravata está posta.
Os sapatos, olha de novo para eles: os atacadores bem apertados; dá o último jeito no nó da gravata, bem a tempo, é o momento:
chega ao chão, impecável
-
Gonçalo M. Tavares, in 'O Senhor Calvino'
407
por que é que,
e não porque é que,
as pessoas
são
tão
feias
em Benfica?

sábado, 2 de junho de 2012

406
'eu, partilhar? só se for no facebook!' - dize L.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

405
Abissologia - para uma ciência transitória do indiscernível.
404
homens que conversam.
de quantas frases ou palavras
precisam até falarem de sexo?