segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

580
dura res, sed res.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

579
calha ires
a Veneza.
e quando
regressas
a Portugal
a única
pergunta
que se repete
é se
'lá aquilo sempre cheira mal?'.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

578
corríamos
à beira-rio
para
mantermos
a linha.
como
marcharemos
e para quê
quando
o paradigma
mudar?

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

577
nesse dia
fez as contas
ao que lhe pagavam.
e começou
a trabalhar
às 15:15.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

576
quando falavam entre eles tratavam as suas mulheres por 'Marias'.
ele era 'a minha Maria isto...', 'a minha Maria aquilo...'.

domingo, 20 de outubro de 2013

575
pode
sempre
acontecer
que um dia
finalmente
descubras
a tua voz
e que ela
tenha
interesse
nenhum.

sábado, 19 de outubro de 2013

574
envelhecias
ao ritmo
do desejo
(...)
do final do mês.
[v. stanza 152]

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

573
por dia,
fechados na mesma sala,
passavas mais tempo com eles
do que com o teu namorado,
e no entanto eles eram
completos estranhos
para ti.
572
homens de fato e gravata:
sabíamos tão bem o que lhes fazíamos.
571
ligas a Antena 2 e está o Laginha ou o Sassetti a tocar a Mariquinhas.
perguntas a ti próprio: por que é que achamos tudo o que é português bimbo?

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

570 e meio

tudo o que fosse feito
lentamente
chegava
atrasado.

por isso já
não prestava.

tudo
o que era bom
é porque era rápido.

só o amor
precisava de só
ser bom.
com 'orgasmos múltiplos, se fazes favor.'

tinhas de escrever
bem
e
depressa,
de ser
contundente
e de
todos os dias
manter a obra
actualizada,
senão eras
'ultrapassado pelos
acontecimentos'.

os velhos,
de andarilhos
eram lentos
e ficavam
para trás.

falavam
arrastado
para dentro,
nos seus lares,
para outros velhos
como eles imaginados.

havia
muito
'desejo de
futuro'.

havia.

só que
ninguém
sabia bem
para onde
tão
apressadamente
seguia.
570
os tempos exigiam
rapidez.
na entrega
(como diziam
os ingleses).
569
no teu jardim,
o cosmos todo.

sábado, 12 de outubro de 2013

568
estamos a embrutecer vertiginosamente.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

567
os que se acham pouco,
por muito se acharem.

domingo, 6 de outubro de 2013

566
querias de volta aquela sensação de tempo infinito.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

565
'impressione com a marmita mais cool' - dize o cartaz

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

564
saca-rabos
563 e meio
os especialistas garantiam que ler fazia bem;
mesmo que se tratasse de merda bem encapada que nos serviam nas livrarias, ou nem isso livrarias;
convinha termos opinião sobre as obras, sobre as que líamos e as que não líamos, e por que é que as não líamos sem nunca as ter lido;
líamos em várias línguas, livros uns a seguir aos outros. éramos saudáveis no ler como no ginásio, aquilo era uma indústria e nunca se editara tanto: no mínimo era lançado um livro novo por dia.
havia quem fosse famoso e vendido sem nunca ser lido por ninguém, muito menos por gente séria;
tal como ninguém votara em cavaco silva apesar de ele ser Presidente da República.
os outros tinham mais do que fazer do que ler.
ler ou não ler lendo.
563
liam Dan Brown a rodos.
562
quanto mais falam,
menos dizem.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

561
lindo
é
o
céu.

sábado, 31 de agosto de 2013

560
benzo
diaze
pinas.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

559
'só olho para aquelas que gostava de comer.' - dize A.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

558
confeccionava o jantar
(se é que
confecção
àquilo
se podia
chamar)
como os putos faziam
os trabalhos para casa.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

557
morri
no dia
em que
me pus
de acordo
com o mundo.

domingo, 21 de julho de 2013

556
na nossa
(única)
condição
humana
de consumidores.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

'Toda vez que ouço falar em público-alvo me abaixo, com medo de levar um tiro.'
- Tom Zé

quinta-feira, 11 de julho de 2013

555

pelas
teclas
brancas

fazes
belas
fugas.

em dó
maior,
claro.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

quinhentos e cinquenta e quatro

554
os nossos rabos
demasiado pesados
para seguirmos de pé.

a ladainha constante
e o credo
como saliva
pelos cantos da boca.

quinhentos e cinquenta e três

553
poema belo de ler,
beaux de lire,
beau de lere,
Baudelaire.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

quinhentos e cinquenta e dois

552
talento, quase nada consegue comparado com a determinação.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

quinhentos e cinquenta e um

551
aquele barbeiro
cortava
terrivelmente
o cabelo.

mas
sempre
lá voltava.

e de lá
sempre
saía
surpreendido
com as
pontas-soltas
que ficavam
por aparar.

quinhentos e cinquenta e meio

550 e meio
até incham
quando dizem
resiliência.

quinhentos e cinquenta

550
resiliência
palavra
que é um
brilharete.

quinhentos e quarenta e nove

549
escutar os mestres.


quinhentos e quarenta e oito

548
'Há livros que falam e livros que ouvem.
Os livros que falam são os maus, os que ouvem são os bons.'
- António Lobo Antunes, entrevista por Ana Margarida de Carvalho

quinhentos e quarenta e sete

547
o
riso
soa
igualinho
ao
choro.

quinhentos e quarenta e seis

546
a obsessão
com o
sexo.

diz que a normalidade
é praticar
duas
vezes
por
semana.

quinhentos e quarenta e cinco

545
resistentes
aqueles
que
(ainda)
livros-mesmo-livros
lêem.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

544

544
teus
peitos
detetas
feitos.

[graças ao novo Acordo Ortográfico]

543

543
detectas a madureza da fruta pelo toque
ignorando as pessoas que o fizeram antes de ti.

(* 'de tetas', como sugere o novo Acordo Ortográfico)

quinhentos e quarenta e dois

542
afinal, qual é a pressa?

terça-feira, 2 de julho de 2013

541

541
calado para Herberto.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

540
entre
o homem
e o gato
uma guerra
de ronrons.
539
só o amor
(à música)
salva.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

538
a direita mata.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

537
sem um grupo de esquerda revolucionária, com os movimentos sociais a reclamarem eleições, com o RDA a promover quartos-escuros e jogos de pingue-pongue com o alto-patrocínio da Junta de Freguesia dos Anjos, com os anarquistas da velha-guarda conformados com a vida burguesa das cidades, com os grupos de transição a isolarem-se em pequenas comunidades atrás dos montes, sobram os valores da carestia e da espiritualidade veiculados pela - única? - organização efectivamente anti-capitalista nos tempos que correm: a igreja católica.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

536
sobredoses de
dúvida cartesiana
e de
teoria da relatividade
foderam
esta merda toda.

domingo, 2 de junho de 2013

535
de repente,
somos todos
marxistas
outra vez.
534
naqueles tempos
em vez de filhos
tinham gatos.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

533
para o português que saiba o mínimo de inglês
Shakespeare será sempre o Abana a Fruta.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

532
por aqueles tempos
considerava o sentido de humor
mais uma perda de tempo
do que, como diziam por aí,
uma manifestação de inteligência.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

531
enjoas a ler um livro,
mas viajas
grudado ao telefone-esperto.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

530
o cassetete
é um quebra-cabeças.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

529
deixas o Bach
ligado.
pode ser que afaste
os gatos.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

528
o acorde de Tristão.
527
como
a manga
que se molha
sem dares conta
enquanto
escovas
os dentes.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

526
juro
pela nossa senhora de brotas
que não preciso de brocas.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

525
a
maçã
fuji
a
caminhar
paulatinamente
para
a
maçã
gala.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

524 e meio
marmita, país da.
524
não dá para almoçar no restaurante?
comes no fast-food.

não dá para o fast-food?
comes no refeitório.

não dá no refeitório?
levas a marmita.

quando não der para a marmita,
venha o papo-seco com margarina.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

523
a democracia gerou circuitos para cada um ter os seus quinze minutos de fama.

terça-feira, 30 de abril de 2013

522
metade
da beleza
é eza
de
tristeza.
521
evita
o lugar-comum
e a frase-feita.
'Es gibt ein Bild von Klee, das Angelus Novus heißt. Ein Engel ist darauf dargestellt, der aussieht, als wäre er im Begriff, sich von etwas zu entfernen, worauf er starrt. Seine Augen sind aufgerissen, sein Mund steht offen und seine Flügel sind ausgespannt. Der Engel der Geschichte muß so aussehen. Er hat das Antlitz der Vergangenheit zugewendet. Wo eine Kette von Begebenheiten vor uns erscheint, da sieht er eine einzige Katastrophe, die unablässig Trümmer auf Trümmer häuft und sie ihm vor die Füße schleudert. Er möchte wohl verweilen, die Toten wecken und das Zerschlagene zusammenfügen. Aber ein Sturm weht vom Paradiese her, der sich in seinen Flügeln verfangen hat und so stark ist, daß der Engel sie nicht mehr schließen kann. Dieser Sturm treibt ihn unaufhaltsam in die Zukunft, der er den Rücken kehrt, während der Trümmerhaufen vor ihm zum Himmel wächst. Das, was wir den Fortschritt nennen, ist dieser Sturm.'
Walter Benjamin in Über den Begriff der Geschichte (1940), These IX
520
és o génio
da banalidade:
escreves quatro versos
e já pensas que és poeta.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

519
poêta
da treta
na recta
da teta.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

518
desocultas um acorde
e ficas a tocá-lo horas a fio
como um novo mantra.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

517
uma coisa que fazemos bem:
falar mal uns dos outros.

terça-feira, 16 de abril de 2013

'One of the biggest fallacies, i think, in art circles and in music circles maybe, when people talk about it, is that music comes from music. Is like saying babies come from babies. That it's not true, isn't what happens. Music is a result of a process for musicians going through, specially if he's creating it on the spot.'
- Keith Jarrett, The art of improvisation

sexta-feira, 12 de abril de 2013

516
e
eis
que
surge
o
sol.
515
a mtv manda:
calças justas às riscas brancas e pretas.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

514
vamos desistindo de ver as notícias
e já só pensamos em emigrar.
513
o meu limite
é o papo-sêco.
512
estás a dar cabo da aura.
511
de certeza que a culpa é dos chineses.

terça-feira, 9 de abril de 2013

510
pões todo o sentimento no verso
para nunca chegares ao fim da linha.
até podes deixar cair a métrica, mas
pelo menos não menosprezes a música.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

509
a
polícia
passa
por
ti
a
cento
e
setenta
e
tal.

mas
não
vai
em 
marcha
de
urgência.

vai
a
dar
o
exemplo.
508
às vezes expomos uma.
outras vezes,
ligamos para aí
umas
duas,
se estivermos inspirados.


temos
cada vez mais dificuldade
em articular
ideias
com
ideias.

olha aqui o exemplo.

quinta-feira, 28 de março de 2013

507
é páscoa,
vamos para
a terra.
506
a empobrecer
a galope.
505
'- isso é uma moda passageira.' - dize T.

quarta-feira, 27 de março de 2013

504
Internet, sorvedouro da aura e da beleza.
'Acontece que a primeira [a Internet] é um bazar que achata, que nivela tudo o que contém.
Um plano de Há lodo no cais, de Elia Kazan vale tanto como o clip mais ignaro e os diálogos de Chronique d'un Ête, de Jean Rouch e Edgar Morin convivem com as piadas do novo humorista revelado on-line.
Concretização dos piores pesadelos de Theodor Adorno, a internet esconde uma máquina larvar, um burburinho incessante que só aqueles com a devida competência técnica conseguem calar...'
- José Marmeleira @ Ipsilon - 22Março2013

sábado, 23 de março de 2013

503
nunca as pessoas tiveram à sua disposição
tantos meios de comunicação.
nunca as pessoas comunicaram tanto.
nunca as pessoas estiveram tão sozinhas.
502
a
internet
está
cheia
de
merda.

quinta-feira, 21 de março de 2013

501
sempre sem tocar
- que o toque,
ai o toque é que não pode ser -
adoramos fazer tangentes
uns aos outros.

quarta-feira, 20 de março de 2013

500
a vizinha de cima
é melhor que a minha.

sexta-feira, 15 de março de 2013

499
confundiam liberdade
com descomprometimento.

quinta-feira, 7 de março de 2013

497

sr. barbeiro,
quero que me corte o cabelo mas não quero o cabelo cortado.
«Um dos meus lados é o da vontade de ter uma arma automática e limpar o sarampo a gente que visivelmente anda a pedi-las; o outro lado é o da adesão àquela frase do Gandhi que diz que 'não há nenhuma causa pela qual esteja disposto a matar, embora haja causas pelas quais estou disposto a morrer'. Se as pessoas conseguem abafar a sua fúria é certamente por causa do medo. O terror é-lhes imposto e deixa-as incapazes de reagir. Mas isto indigna-me porque houve quem tivesse reagido em condições muito piores. Sinto uma fúria enorme contra esta gente que nos governa e nos governou, considero-os piores do que os salazaristas. As pessoas vivem no engano o tempo todo: porque têm direito a voto e os jornais podem criticar o poder político, julgam que isso lhes dá algum poder soberano. O único poder que têm é o de irem colocar um voto na urna de quatro em quatro anos para fazerem uma escolha num horizonte completamente limitado. A maneira suave com que age esta forma de ditadura é repugnante. É preferível a clareza da repressão a esta maneira de nos tirarem a alma, a honra, de fazerem de nós uns farrapos.»
- Paulo Varela Gomes, Público, 1 Março 2013
496
experimentem
tirar-lhes
os carros
e
a bola.
495
com o cabelo comprido:
- quando é que cortas esse cabelo à Marco Paulo?

com o cabelo acabado de cortar:
- então pá, mas o que é que foste fazer aos caracóis?
494
muitas vezes
os rapazes
pensam que
as raparigas
pensam como
os rapazes.

terça-feira, 5 de março de 2013

493
por entre os ventos cruzados,
eleva-se rápido o falcão.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

492
os pobres fogem aos impostos,
os ricos têm esquecimentos.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

491
um
chinês
vinha
a pedalar
desde
a China.

pedalou,
pedalou,
pedalou,
pedalou.

eh pá,
até pelo
Tibete
andou!

às tantas,
acabou por chegar a Portugal.

encostou a bina
ali para os lados de Sines
para tirar uma fotografia.

quando se voltou
a bina já lá não estava.

gamaram a bina ao chinês.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

490
a sua referência eram os sem-abrigo...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

489

Vasco Graça Moura traduz Rainer Maria Rilke.
em bicos de pés?
é que pela capa mais parece que foi Rilke a traduzir Moura.

488
apresentas o power point
à plateia dos teus colegas.

imaginas que estás no ted talks.

tens de ter piada.
esforças-te no stand-up,
como viste na net e na tv.

podias ter sido humorista,
se quisesses, claro.

mas não:
és
apenas
mais
um
analista
informático.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

487
não corras.
e nunca verás o trambolhão que darias.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

486
diria a minha avó:
andam a fazer pouco de nós.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

485
de ano para ano, receber cada vez menos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

484
uma viagem
de autocarro.
esperança
suspensa.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

483
vais corrigindo
alguns
pontos-de-vista.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

482
hai
ku.
481
estamos todos mal,
então está tudo bem.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

480
a pretensão à novidade
de todas as modernidades.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

479
os fiscais entram.
e o autocarro,
que até aí seguia aos trambolhões de rua em rua,
abranda o mais possível até à próxima paragem:
'assim dá tempo para os apanhar!'
um passageiro mostra orgulhosamente
o seu título de transporte
va-li-da-do.
os infractores são apanhados
para gáudio dos cumpridores.
faz-se justiça na calçada.
Hitler vive nos nossos corações.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

478
enquanto nós nos fodemos para eles
eles vão-nos fodendo a nós.